Em Memória dos Heróis da Revolução Constitucionalista de 1932

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

SELO DA SOCIEDADE ALTERNATIVA

No Egito antigo, a Cruz Ansata era o símbolo da vida. Como “cruz da vida” afamada na era moderna. Visto que a palavra “Ansata” é uma variação do velho vocábulo egípcio “Ankh”; que significa: “vida”.
A priori, ela é personificada como um penduricalho. Já que, como um ornamento, era levada aos ritos religiosos. Pois o círculo, ou a figura oval, que há na sua parte superior, serve como uma alça. Como é externado no Arcano 2 do tarô egípcio. A carta da “Sacerdotisa”. Onde, com a mão destra, junto aos seios, a clériga segura a Cruz Ansata; assinalando o peito como o tabernáculo da existência.
Todavia, a estrutura da peça tem o formato da letra “T”, do alfabeto latino. O qual também é o design antigo da letra “Tau”, do alfabeto hebraico. Sendo que, por uma similaridade sonora com a letra “+”, do antigo alfabeto egípcio, ocorreu uma associação entre a fonética e o formato, e a tal contraiu o conceito de “cruz”, como significado.
A letra “Tau” também é uma representação da queda do plano astral ao físico. Ora que é uma estilização do útero. Com o canal cervical e a cavidade uterina expressos na extensa risca vertical. E os ovários desempenhados pelo acanhado traço horizontal.
Doravante, essa metáfora visual é aproveitada no Arcano 12 do tarô de Arthur Edward Waite. A carta do “Enforcado”. Em cuja ilustração, feita por Pamela Colman Smith, há a alegoria do regresso. Do retorno do Rei Sacrifical. Aquele que, a fim de fazer o que é sagrado, abraçou a morte. E foi para junto da Divindade. De quem recebeu um ensinamento. Para, como um messias, voltar portando o projeto que lhe possibilitasse proporcionar o progresso ao povo seu. Por isso, na carta é latente a ideia do parto. Com a personagem que encarna o “Enforcado” de cabeça para baixo; à beira do nascimento. Tendo a sua cuca iluminada pela luz do conhecimento. E a corda, que o sustenta pela perna, como o cordão umbilical a ser rompido em prol da humanidade.
Sem mais, como um signo da vida, a Cruz Ansata representa a força das dez esferas que compõe a Árvore da Vida. Ou seja, é um canalizador e catalisador das dez frequências energéticas emanadas por Deus.
No passado egípcio, havia dois rituais: o do “Templo Maior”, aberto ao público, e o do “Templo Menor”, restrito aos sacerdotes. Sacerdotes que se valiam da Cruz Ansata como uma antena. Com o fim de sintonizar as oscilações vibracionais e viabilizar a abertura de um vórtice.
Em 1973, pela mão de Raul Seixas, esse ícone entrou na cultura brasileira. Visto que, na capa do álbum “Krig-ha, Bandolo!”, o cujo aparece com os braços abertos, como um urso. E na palma da sua mão direita há o desenho de uma versão da Cruz Ansata. Um desenho em traço negro e similar a uma chave. Posto que, se afunilando rumo à base, como a metade de uma seta, para o lado esquerdo, há dois entalhes.
Em 1974, no canto inferior esquerdo da capa do álbum “Gita”, essa perversão da Cruz Ansata foi reapresentada em seu desenho definitivo. Ainda como uma chave. Porém, mais próxima da estética encontrada nos papiros egípcios. E como componente de um selo.
Tal qual se repetiu nas capas dos álbuns “Novo Aeon”, de 1975, e “A Pedra do Gênesis”, de 1988.
Mas por que em um selo?
Bem, o termo “selo” é originário da palavra latina “sigillum”. E é associado com aquilo que é particular. Tanto que no Artigo 5º, inciso XII, da Constituição Brasileira está determinado: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”.
Logo, é quando a logomarca de uma determinada representação é disposta em uma chancela. Para que seja pressionada contra uma nódoa de cera recém derretida; discriminando uma epístola, por exemplo.
Como quando Acab, Rei da Samaria, teve o seu intento de possuir as vinhas de Nabot frustrado. E quem realmente comandava a sua casa real, a Rainha Jezabel, tomou o problema a si e, como de costume, ao seu consagrado estilo, o solucionou. Do modo que consta em I Reis 21:8: “Escreveu ela, então, uma carta em nome do Rei, selou-a com o selo real, e mandou-a  aos anciãos e aos notáveis da cidade, concidadãos de Nabot. Eis o que dizia a carta: ‘Promulgai um jejum. Fazei sentar Nabot num lugar de honra e mandai vir diante dele dois homens inescrupulosos que o acusem, dizendo: Este amaldiçoou o Deus e o Rei’. Conduza-o em seguida para fora da cidade e apedrejai-o, até que morra!”
No caso, a representação a ser distinguida é a “Sociedade Alternativa”. Cujo nome é encontrado na parte inferior do círculo do selo. Enquanto, ao centro, dentro de um círculo menor, está o emblema; a, agora, “Chave da Vida”. Com o detalhe de que os entalhes, então, em declive, estão atrelados à base da figura; como um leme. E, no alto, há a palavra latina “Imprimatur”.
“Imprimatur” significa: “imprima-se”. Já que é uma permissão concedida por uma autoridade da Igreja Católica a uma obra que passou por um controle de qualidade eclesiástico. E recebeu o “Nihil Obstat”. Cuja tradução é: “nada se opõe”. Uma aprovação outorgada por um censor que constatou que na obra há a ausência de algo que seja contrário à doutrina cristã, que o Vaticano prega.
Então Raul Seixas parodiou um ícone cristão?
Sim. E o fez no melhor estilo cristão. Primeiro: se aproveitando e apropriando-se de tudo o que dá consistência à religião alheia. Em segundo: execrando as coisas que julgou supérfluas.
Sem mais, a “Chave” tem a função de abrir um portal entre os planos astral e material; religando o universo. Para tal, se valendo da combinação de dois distintos fatores. Que são atados pelo desejo. Um é a “Lei da Correspondência”. E o outro é a “Lei do Mentalismo”.
Sendo que a “Lei do Mentalismo” é o princípio que determina que a existência é um produto do pensamento. Como, no romance “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa, pelo jagunço Riobaldo é, com lirismo, explicado: “E Reinaldo, doutras viagens, me deu outros presentes: camisa de riscado fino, lenço e par de meia, essas coisas todas. Seja, o senhor vê: até hoje sou homem tratado. Pessoa limpa, pensa limpo. Eu acho”.
Enquanto a “Lei da Correspondência” é mencionada, de uma forma esclarecedora, na Tábua de Esmeralda, de autoria de Hermes Trimegisto, no seguinte trecho: “É verdadeiro, sem falsidade, certo e verdadeiro que aquilo que está em cima é igual àquilo que está embaixo e que aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, para realizar os milagres de uma única coisa”. E citada, de forma velada, em Mateus 6:10: “Venha a nós o Vosso reino / Seja feita a Vossa vontade / Assim na terra como no céu”.
Doravante, Raul Seixas desejava criar uma sociedade anárquica. E a iniciou ao estabelecer como pedra fundamental a criação de uma egrégora. A Sociedade Alternativa. Porém, ela não existiu por um tempo que lhe tornasse viável a materialização. Visto que, em 1989, com o falecimento de Raul Seixas, ela foi relegada ao esquecimento. Só lembrada como uma fantasia. Talvez uma mera utopia. E, o que seria uma Ordem Maçônica Livre e Aceita, se tornou um terreno baldio e acidentado. Delineado por uma cerca de madeira velha e carcomida; representando um resquício do legado de seu idealizador.
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Cruz Ansata



Carta da Sacerdotisa
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Carta do Enforcado
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Selo da Sociedade Alternativa
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Calcinha Grampola